Fábio Porchat segue passos do Nobel da Literatura 40 anos depois

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Humorista brasileiro recria a viagem de Saramago

No ano em que se comemora 100 anos do nascimento do prémio Nobel da Literatura, e seguindo o novo livro de Saramago, Viagem a Portugal, a RTP comemora com uma série documental. Para tal convidou o humorista brasileiro, Fábio Porchat, para seguir as mesmas pisadas do escritor quatro décadas depois. O ator de Porta dos Fundos, bem como com a mulher de Saramago, Pilar del Rio, contaram ao StarsOnline como tem sido esta aventura.

Que outro local seria mais indicado para falar de Saramago que não fosse na sua fundação. Foi aqui que a RTP convocou a imprensa para nos revelar como têm corrido as gravações de Viagem a Portugal (o mesmo nome do último livro de Saramago). Uma série documental protagonizada pelo humorista brasileiro Fábio Porchat (Porta dos Fundos) que volta a visitar os mesmos locais que Saramago em 1981.

Além dos muitos motivos para descobrir o nosso país, tanto em termos históricos, arquitetónicos e culturais, um dos cartões de visita mais apelativos de Portugal é mesmo a sua gastronomia, como descobriu o humorista Fábio Porchat. “Meu Deus do Céu, eu só comi. Volto ao Brasil com a sensação que vou explodir a qualquer momento . A nossa produtora disse-me que, até ao momento, tínhamos feito 2600 quilómetros de carro. Em cada cidade precisamos de experimentar ou as bochechas de porco, ou a vitela, ou o bacalhau… cada lugar tem o melhor de qualquer coisa e isso eu entendi.”, ironiza. Quanto a ser um brasileiro a voltar a trilhar os mesmos passos de Saramago, esse foi um convite surpreendente para Porchat, como reconhece: “Está a ser uma viagem impressionante e estou muito encantado e honrado com esse convite. Quando me fizeram o convite, eu julguei que havia algum equívoco, porque pensei que não valia mais chamar um português, visto que Saramago é português e é uma viagem a Portugal? Eles disseram-me que era muito antes pelo contrário, pois queriam um olhar de fora.

“Tenho uma forte ligação com Portugal”

Mas Portugal não é uma novidade para um dos protagonistas do elenco de Porta dos Fundos, esclarece: “Eu tenho uma ligação forte com Portugal, não só das várias vezes que me apresentei aqui, através da porta dos Fundos, mas através de Saramago. Eu lembro-me que estava a ler o Ensaio Sobre a Cegueira quando estava a ir ter com uma tribo na Amazónia. Estava numa canoa, no meio da Amazónia, com dois indígenas remando, e, em dado momento em que Saramago descreve um momento de nojo, o barco fez um movimento onde entrou água, e a minha reação foi “que nojo. Pisei nisso”. Aí percebi que me tinha desconectado do lugar onde estava e estava dentro do livro. Foi a primeira vez que isso me aconteceu e foi tão impactante que demorei alguns segundos para me dar conta. Creio que essa é a força de um grande escritor é de ser capaz de te transportar para qualquer lugar. Acontece sempre que leio Saramago.

“Falámos com pessoas que ele falou há 40 anos

 Como companheiro de aventura neste seu périplo, tem a última obra de Saramago, Viagem a Portugal, que serve quase como um guia, como nos explicou: “Viagem a Portugal era um livro que ainda não tinha lido e não conhecia. E o que está a ser mais interessante é estar a reler o livro enquanto gravo. Leio aquilo que Saramago viu e espero que os portugueses que assistam à série tenham essa mesma vontade, pois há ali um roteiro de autoconhecimento do povo português e dos seus locais.” Mas não só visitaram os mesmos locais por onde passou o Nobel da literatura, como inclusive estiveram com as mesmas personagens que este havia estado no início da década de 80, revelou: “Não só visitámos os locais onde ele esteve, como falámos com pessoas que ele falou há 40 anos. Em Tentugal comi os pastéis que ele comeu servidos pela mesma pessoa que o serviu, até feitos pelas mesmas mãos. Não é só emocionante como bonito estar dentro desse Portugal que acredito que há muitos portugueses que ainda não conhecem. Fui tão bem recebido desde que começámos em Miranda do Douro até Coimbra. Fui abraçado muitas vezes, pois são um povo muito acolhedor.

“Quando paramos, olhamos e percebemos os detalhes, é onde ganhamos e nos conseguimos transformar

As gentes lusas e a interação com elas foi dos momentos mais surpreendentes nesta sua primeira parte desta viagem, confessa: “Houve pessoas que participaram do documentário sem que nós pedíssemos. Recordo de uma senhora que nos viu ao fundo gravando e perguntou “O que está acontecendo? E vou lá falar com eles. Eu vou ser muito educada e falarei com eles.” Pegou no meu braço e disse “Eu estou a ser muito bem educada e vocês são bem educados. O que estão a fazer aqui?”. E foi assim que começámos a conversar. Há 40 anos eram tempos diferentes, mas devíamos olhar mais para esses tempos, pois fazia-se as coisas com mais calma e tempo, apreciando, olhando… Claro que Saramago olha e vê o castelo, mas também se perde a olhar para uma varanda de madeira, naquela figura de uma igreja… e é essa viagem que se deve fazer. Pelos detalhes. Estávamos em Coimbra no interior de um mosteiro e haviam tantas referências, os azulejos, as pedras, o teto, o altar… Hoje vivemos nesse mundo de informação sem parar, mas quando paramos, olhamos e percebemos os detalhes, é onde ganhamos e nos conseguimos transformar.” 

O Portugal que tenho descoberto é bem maior e melhor que aquele que imaginava.”

Esta é a primeira parte de uma viagem que terminou na zona centro do país e que volta a ser retomada só em 2022, assim nos explica: “ E é isso que o livro está a fazer comigo. Por isso tenho que agradecer a Pilar por abraçar este projeto, à RTP por apostar nele e ao Ivan que teve uma ideia há 20 anos e a perseguiu. Esse não se cansa mesmo. Não foi a pandemia que nos parou, pois estivemos 25 dias a gravar e voltamos a gravar em fevereiro mais 25 dias, agora de Coimbra para baixo. As pessoas têm um carinho grande por Portugal. O Portugal que tenho descoberto é bem maior e melhor que aquele que imaginava. E foi isso que Saramago descobriu há 40 anos, chegando a desapontar-se com alguns lugares. 40 anos depois as coisas mudaram e evoluíram e creio que Saramago ficaria feliz de fazer essa viagem de novo e descobrir essa evolução.

“Fiquei arrepiada e creio que todos o ficarão, emocionados e até perplexos”

Para a mulher de José Saramago esta série é um modo de, não só de revelar o que o escritor se deparou há quatro décadas, mas também um olhar atual mais leve e divertido, confessa Pilar del Rio:  Uma editora decidiu editar de Viagem a Portugal através das fotos que Saramago tinha tirado dos sítios por onde tinha passado. Fiquei arrepiada e creio que todos o ficarão, emocionados e até perplexos, com as fotografias dos lugares por onde tinha viajado, onde estão assinaladas os lugares e a data em que foram tiradas. Quando vimos as fotografias, estávamos na cozinha da nossa casa em Lanzarote, estávamos quatro pessoas e ficámos todos no mais puro silêncio emocionados a ver as imagens. Tenho de agradecer à RTP, pois este é um projeto que nasce com tanta reverência, estima, emoção e seguirá com toda a desenvoltura e humor e igual respeito, que dirá a Portugal e ao Mundo quem são os portugueses e o que é Portugal.”

@starsonline®texto: Eduardo César Sobral Fotos: Divulgação

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