Carla Matadinho e Paulo Sousa Costa: “Estamos a sacudir as cinzas”

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Rude golpe para a companhia de teatro Yellow Star Company

Com o Natal à porta, um incêndio num armazém acabou por destruir o material essencial para os espetáculos da companhia teatral. A acrescentar a isso, a nova direção do Teatro Armando Cortez decidiu não renovar contrato, deixando a companhia sem palco para muitas das suas peças. Paulo Sousa Costa e Carla Matadinho contam-nos como estes tempos são difíceis.

Nos últimos anos, a Yellow Star Company tem sido uma das companhias teatrais mais prolíficas no número de peças que leva a cena. Contudo, após serem duramente fustigados pela pandemia, muito recentemente um incêndio destruiu quase a totalidade dos figurinos e adereços necessários para os seus espetáculos de Natal. A piorar ainda mais todo este cenário já de si dantesco, a direção da Casa do Artista decidiu não renovar o contrato com um dos palcos mais requisitados, o Teatro Armando Cortez. Foi sob este clima sombrio que falámos com os principais responsáveis desta companhia teatral, Paulo Sousa Costa e Carla Matadinho, que coloca em cena peças como “Monólogos da Vagina”, “Ratoeira”, “Madagáscar”, entre vários outros. Para o produtor Paulo Sousa Costa o tempo é de reavaliar os danos e perceber como será o futuro, como nos confessou: “Estamos a sacudir as cinzas. Mais uma vez estamos a levantar a cabeça e a acreditar que vamos conseguir. Atravessávamos uma fase de transição com a saída do Teatro Armando Cortez, perceber para onde é que iriamos e como nos reorganizar. Para sermos cobertos pelo seguro tínhamos de declarar o que tínhamos dentro. Nesta fase é uma zona meio cinzenta para acontecer isto.”

“Passou de um teatro devoluto para um teatro desejado

 A saída abrupta do Teatro Armando Cortez foi um acontecimento inesperado, reconhece: “Foram seis anos de trabalho em que se passou de um teatro devoluto para um teatro desejado. Nós tínhamos um contrato precário que se renovava anualmente. Tentámos várias vezes fazer um outro contrato mais longo e agora a nova direção aproveitou-se disso. Têm ali uma jóia que nós delapidámos e transformarmos numa pedra preciosa.” Quanto a outros palcos, para Paulo Sousa Costa não é fácil conseguir encontrar em Lisboa, reconhece: “Andamos a falar bastante sobre isso e em Lisboa não existem salas com a dimensão que os nossos espetáculos necessitam, pois precisamos de palcos grandes. Temos tentado muito desde que ficámos sem o Teatro Armando Cortez. Já fomos recebidos por muitos, mas… 

“Fomos postos fora sem dó nem piedade”

Quanto ao como antevêm o Natal, uma época forte para os espetadores irem ao teatro, as coisas estão difíceis, como reconhece Carla Matadinho: “Em relação a isso, nós estávamos a fazer espetáculos sete dias por semana. Não querendo pôr-me em bicos de pés, não vemos muitos sítios em que possamos passar isso. Criámos uma corrente de público gigantesca e depois, de repente, fomos postos fora sem dó nem piedade. Olhando para outros teatros em Lisboa, eles já têm a sua própria programação com regularidade. Existem outros que não têm sequer programação com regularidade ou público, mas isso tem que ver com as entidades responsáveis. 

Como é possível que uma companhia como a Yellow Star não ter palco?

Quanto ao futuro, a única certeza é “só sabemos que vamos entrar o ano sem teatro. Na nossa história é a primeira vez. Confesso que preferia chegar a esta altura em que já não temos nada para provar, antes pelo contrário, que tivéssemos mais apoio e olhassem por nós. Como é possível que uma companhia como a Yellow Star não ter palco?” A situação é deveras delicada tanto que decidiram enviar uma missiva às mais altas patentes do Estado. “Escrevemos ao Sr. Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que é uma pessoa tão ativa a defender tantas áreas, e até tivemos lá num gabinete de assessoria. Não fomos recebidos pelo sr. Presidente, mas pelos assessores que foram muito simpáticos e atentos, mas na prática não há muito que possam fazer. Era bom que outras vozes se ouvissem para fazer um pouco por nós.”, pede Carla Matadinho.

©starsonline® texto: Eduardo César Sobral

 

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