Filipe Lá Féria celebrou 75 anos: “…vou ser recordado como um louco que fez tudo pelo teatro…”

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No dia dia em que Filipe Lá Féria comemorava 75 anos de vida, ontem dia 17, Nelson Mateus esteve à conversa com o encenador mais respeitado da atualidade.

Retratos Contados: Procuramos que os Retratos Contados se apresentem como um projeto único, diferenciador e inovador, com o objetivo de falar das ligações entre avós e netos. O que acha de um projeto como este? De dar voz à importância dos avós na vida dos netos e vice-versa?

Filipe La Féria: Acho muito bem! Acho que é um projeto que aproxima. Tudo o que é dar a conhecer e divulgar as figuras da cultura em Portugal, é muito bom porque de facto em Portugal há um grande ostracismo perante a cultura.

Eu como sou do Alentejo, como sou da província e vou lá muitas vezes, tenho muito essa noção. Além disso, todos os dias estou com o público. Eu normalmente recebo o público e vejo de facto que, cada vez é mais difícil interessar o público por causas culturais.

R.C: Quando olha para o nosso país, como vê a população mais velha?

F.L.F: Vejo a população mais velha muito desamparada, com umas reformas miseráveis acabam por ficar completamente desamparados. Aliás, o último governo foi perito, em tornar ainda mais profundo o fosso na população mais velha.

Não conseguiram resolver nada!

As pessoas velhas trazem com elas a sabedoria e a nossa história! Um país sem história, é um país que está a morrer!

R.C: Nasceu em Vila Nova de São Bento, em Serpa, na casa onde hoje é a Junta de Freguesia, a 17 de Maio de 1945. Viveu nessa casa até que idade?

F.L.F: Eu vivi nessa casa sempre! Era a casa dos meus pais, e até aos vinte e tal anos, íamos lá sempre nas férias. Fiz em Vila Nova de São Bento a instrução primária. Portanto, tenho uma grande ligação a essa casa. Aliás, quando sonho, sonho sempre com essa casa. É a casa onde eu nasci. Aliás a população foi muito amável, porque tem lá uma placa, a dizer “Aqui Nasceu Filipe La Féria”

R.C: O seu bisavô paterno D. Luis viveu em Nova Iorque e no México. Este bisavô acabou os seus dias de idade na Herdade da Abóbada.

Este, seu bisavô foi um homem muito à frente para o seu tempo.

F.L.F: Não conheci nem o meu bisavô paterno nem o meu avô paterno. Eram pessoas de facto liberais, duma linha maçónica e eram efetivamente pessoas muito avançadas para o seu tempo.

Sei que o principal amigo do meu avô era o António José de Almeida (político republicano português, sexto presidente da República Portuguesa, cargo que exerceu de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923). Portanto, eram pessoas que, embora latifundiários, tinham uma mentalidade muito liberal.

R.C: Quando era pequeno, ouvia histórias deste bisavô muito progressista?

F.L.F: Principalmente histórias relacionadas com a minha avó. A figura mais presente na minha vida foi minha avó paterna. Essa eu conheci muito bem e a ela devo muito! Ela até me legou a biblioteca dela, era uma mulher muito culta, muito amiga de ajudar.

R.C: Fala-nos da avó Dolores?

F.L.F: Era uma mulher muito progressista, muito avançada para o seu tempo, irmã de um grande médico que era o Ramon de la Féria. Foi um dos médicos mais famosos de Lisboa, portanto de Portugal. Era o Mestre da Maçonaria e era um homem que sofreu muito com a perseguição de Salazar. Teve três anos no Forte de S. Julião da Barra. Muitos espectadores perguntam-me muitas vezes o que é que eu era ao Ramon de la Féria. Era meu tio-avô, irmão da minha avó. Ainda hoje, as pessoas contam-me com lágrimas nos olhos, histórias deste meu tio-avô, já que ele tratava as pessoas sem levar dinheiro. Tinha um consultório na Avenida da Republica e foi um homem que de facto marcou a sua época.

R.C: Ia falar-nos da sua avó Dolores…

F.L.F: Essa avó levava-me à ópera. A minha paixão pela música e pelo musical, herdei da minha avó Dolores. Era uma intelectual e uma mulher muito avançada para o seu tempo. Era amiga das poetisas Fernanda de Castro e da Graciete Branco.

Vivia no Alentejo e enviuvou muito cedo , com apenas 17 anos, do meu avô Francisco de Assis e Brito de Orta. A minha avó Dolores da Conceição de La Féria depois disso veio viver para Lisboa e, mais tarde casou em segundas núpcias com o Camilo Alves, dono dos vinhos Camilo Alves. Era uma mulher muito culta, muito viajada.

R.C: O Sr. Camilo Alves, apesar de não ser seu avô de sangue, acabou por ser o avô do Sr. Filipe.

F.L.F: Sim! Mas a minha avó Dolores é que era uma figura tutelar. Era a matriarca da família.

R.C: E conheceu os seus avós maternos?

F.L.F: Conheci a avó de Ficalho, pois exatamente vivia em Vila Verde de Ficalho. Era uma senhora que era de Barrancos e que eu recordo também com muita ternura. Era o oposto da avó Dolores que era uma avó mais urbana.

Consegui o melhor de dois mundos diferentes.

R.C: É o mais novo de seis irmãos. Que recordações tem da sua infância com os seus irmãos?

F.L.F: Eu tive uma infância muito feliz porque os meus pais tinham possibilidades de proporcionar-nos isso. Lembro-me muito bem das férias de Monte Gordo, tínhamos uma casa em Monte Gordo. Foi a infância de um menino rico, digamos.

Fui uma criança feliz! Depois vivemos muito tempo no Restelo.

Eu tenho tido uma grande felicidade na minha vida, tenho tido oportunidade de ver o espetáculo da vida de todos os pontos da sala. Do camarote, da plateia, da tribuna… Mas também vi do galinheiro!

R.C: Toda a sua vida é o teatro!

F.L.F: E sobretudo de todos os altos e baixos da minha vida. Porque a minha vida, foi sempre o começar de novo. Parece que as coisas estão bem, mas tudo é um risco.

Produzo uma peça! Esta, pode ser um grande êxito (e eu de facto tive os maiores êxitos que uma pessoa pode ambicionar), mas também pode ser um fiasco.

Felizmente nunca tive um grande fiasco! O meu grande fiasco foi sonhar fazer uma escola do Olimpia. Isso é que deu um péssimo resultado que estou a pagar muito caro, exatamente pela indiferença que se dá à cultura. Para o espetáculo do casino apareceram trezentos e setenta e seis candidatos. O que seria aquela escola aqui no coração de Lisboa? Mas vai ser um hotel, não vai ser uma escola. Isso foi talvez o maior desgosto que eu tenho na minha vida de teatro.

R.C: Tem ideia de com que idade começou a sonhar com o teatro?

F.L.F: Desde sempre! Eu achei sempre que o mundo era um teatro, que ao fim e ao cabo nada era real. E se calhar não é! Continuo com essa ideia na minha cabeça. O que é o real e o que não é. Portanto fui sempre um bocadinho como o Proust, à procura sempre de um mundo perdido.

R.C: As suas avós, foram mulheres determinantes para o Filipe ser o homem que é hoje?

F.L.F: Sim, sobretudo a avó de Lisboa que era muito ligada à cultura. A avó Dolores, levava-me imensas vezes à ópera e ao teatro. Enquanto ela me levava mais ao Teatro S. Carlos e ao Teatro Nacional, com o Sr. Camilo Alves, (que é a pessoa que tenho como avô) eu ia à revista. Deixavam-me entrar com ele sempre porque ele era o patrocinador das revistas do Parque Mayer.

R.C: Sente ter herdado alguma característica dos seus avós?

F.L.F: Mais dos meus pais. Aliás, mais da minha mãe! A minha mãe era uma pessoa extremamente inteligente com uma grande ironia, um grande humor e o meu pai era megalómano, no bom sentido! Via tudo, e fazia tudo, com a mania das grandezas e eu também tenho isso.

R.C: Acabou por ser uma fusão dos dois?

F.L.F: Uma fusão dos dois! Aliás, até um espectador que era lá do Alentejo disse-me isso quando foi ver o “Passa por mim no Rossio”.

” Você herdou o sonho de arriscar tudo por tudo como o seu pai tinha, mas ao mesmo tempo o humor e a ironia da sua mãe.”

R.C: Os seus pais tiveram oportunidade de ver a sua carreira de sucesso?

F.L.F: Os meus pais faleceram muito cedo. Por isso, não tiveram oportunidade de ver o princípio da minha carreira como encenador. Só como ator.

Eu tive dezasseis anos ou dezassete como ator. Tive uma boa carreira logo no princípio e fiz papéis em Companhias muito importantes, como o Teatro Estúdio de Lisboa, que agora está completamente destruído. Eu quando passo ali, até me dói o coração. Entristece-me ver abandonada a Feira Popular, o espaço onde houve tão bom teatro…

Luzia Maria Martins e Helena Feles fizeram, o teatro da Cornucópia, o teatro Experimental de Cascais, o teatro Nacional. E, uma figura que foi muito importante para mim, foi a Amélia Rey Colaço, que eu sempre falo dela, que tinha a paciência até de me levar para casa dela para me ensaiar.

R.C: A Sra.D. Amélia Rey Colaço…

F.L.F: Com quem comecei a estudar e com quem fiz várias peças no Teatro Nacional.

Com a grande Palmira Bastos, estreei-me num espetáculo no Teatro S. Carlos, que era uma comemoração de Gil Vicente. Recordo-me que ela fazia o Pranto de Maria Parda, como era uma senhora muito fina, até diziam que era o pranto da Dona Maria Parda. Mas era uma grande atriz, era uma atriz genial!

Para mim, foi das atrizes que mais me impressionou ver ao longo da minha vida. Ela e a Laura Alves.

R.C: O Sr. Filipe foi avô pela primeira vez há quatro anos. O que é que mudou na sua vida depois do nascimento da sua neta.

F.L.F: É uma nova visão da vida. Nós estamos numa idade em que já adquirimos uma sabedoria, que temos mais afeto para dar. Os netos chegam “no principio do Outono” É muito diferente quando é no Verão, que no Verão são os filhos, no Outono são os netos.

R.C: Apesar de só ter três anos, quando a sua neta vem ao teatro…

F.L.F: Ai adora… Ela adora! Ela vibra completamente com o teatro.

R.C: Como gostava de ser recordado pelas suas netas um dia?

F.L.F: Eu acho que vou ser recordado pelas minhas netas como um louco que fez tudo pelo teatro. Um homem muito à frente. Um megalómano como o meu pai.

R.C: Progressista como foi a sua avó?

F.L.F: Sim, um bocadinho da tradição do bisavô que falamos ao início. Um homem que nasceu no Alentejo e que assistiu à revolução de Zapata no México, assistiu ao “nascimento” de Nova Iorque. Nova Iorque não era esta que todos conhecemos hoje em dia! Era a Nova Iorque como naqueles filmes antigos.

R.C: O Sr. Filipe quando estreia uma peça, já está a escrever a peça que irá estrear a seguir…

F.L.F: Ah pois tenho de estar! Porque daqui dependem muitas famílias. Isto é um transatlântico, o Politeama é um transatlântico e o Casino do Estoril outro! Portanto, eu tenho de estar sempre a pensar no que vem a seguir. Daqui vivem mais de duzentas pessoas. Estão muitas pessoas no palco, no fosso da orquestra, por detrás do palco, na produção, nas luzes e no som… Eu faço teatro sem uma única ajuda do Estado. O Estado só vem cá tirar a parte dos impostos. São uns impostos de facto terríveis que nós pagamos e nós temos de pagar tudo desde a luz, a água, a eletricidade, o telefone e é muito… Bem sei que tenho um público fiel, mas aguentar tantas despesas, requer muito trabalho. Um trabalho muito, muito duro.

R.C: A mentalidade das pessoas já mudou em relação ao teatro de revista? Era sempre visto como uma “arte menor”…

F.L.F: Isso é conversa de café, conversa da treta! Porque, o fado e o teatro de revista, pertencem muito à idiossincrasia do povo português!

R.C: É a nossa identidade, é o nosso ADN…

F.L.F: Exatamente! Portanto, podem proibir tudo, mas o fado haverá sempre e revista haverá sempre. Aliás, se lermos a críticas ao Vasco Santana, à Laura Alves, ao António Silva… naquele tempo também dizem que são do Parque Mayer, e não sei quê, mas são eles que ficaram no coração e na memória do povo. É a eles que o povo viu e quando se diz o povo é o povo no seu todo. Portanto, eles é que são a imagem do teatro português não é?

A ópera era o espetáculo mais popular aqui no Coliseu. Eu lembro-me de vir aqui ao Coliseu ver as óperas. O povo gosta do que é bom. Podemos ver um Shakespeare muito mal representado e ser um mau espetáculo. Podemos assistir a uma revista ser maravilhosa e, esta ser um espetáculo que fica para sempre na memória.

R.C: O público que assiste às produções La Féria, é bastante vasto.

F.L.F: O público que eu tenho é um público da média burguesia. Aqui vemos desde a senhora do casaco de peles, ao senhor doutor, ao empresário, até à mulher que vem da Nazaré numa … Aos meus espetáculos, vem assistir toda a sociedade portuguesa!

R.C: Exatamente, tudo acaba por estar aqui representado…

F.L.F: Só fiz na minha vida quatro revistas porque, a maior parte das minhas produções, são peças, muitas só de texto e muitos musicais. Isso é que me enche de orgulho, trazer para Portugal o musical. Eu fiz todos e com grandes sucessos. O maior sucesso do Politeama foi sem dúvida o “ Musica no Coração”, a “My Fair Lady “ e a “Gaiola das Loucas”, o “Violino do Telhado”, o “Jesus Cristo Superstar” que o próprio Lloyd Weber considerou uma das melhores encenações, mesmo ao nível mundial.

R.C: “A Casa do Lago” foi uma peça de texto, fantástica.

L.F.L: A “Casa do Lago “ era uma peça de texto. Que aqui estreou com a Eunice Munoz e o Rui de Carvalho e um lago, tinha mesmo um lago na peça. No Porto esteve em cena sem lago, e foi representada pela Manuela Maria e com o Joaquim Rosa.

R.C: Há segredo para este sucesso?

F.L.F: Eu acho que dou tudo por tudo, para que cada projeto seja um sucesso. Eu não me poupo. Eu faço tudo como se não houvesse amanhã.

R.C: Qual a peça que gostaria de fazer que ainda não fez?

F.L.F: Todas! Nem duzentos anos chegariam para fazer todas as peças que eu gostaria de trazer para o palco. Mas tenho dois grandes sucessos na minha vida, que são peças completamente originais e que foram o “Passa por mim no Rossio”, que foi um marco histórico! Nunca mais no teatro nacional, houve um êxito como aquele e nunca mais haverá! E a “Amália”, que esteve seis anos em cena. Ultrapassou os seis milhões de espectadores contando com a tournée internacional. Só em Paris, na semana em que lá estivemos foram mais de cinquenta mil espectadores a assistir.

E eu acho que esse espetáculo pôs a Amália no seu lugar. Aquele espetáculo pôs a Amália como um mito e foi um pedido da própria Amália. A Amália morre como todos os artistas em Portugal, muito amargurada, ela achava que os portugueses não lhe davam o valor que ela tinha, que já se tinham esquecido dela … Ela um dia veio ver aqui a “Maria Callas”, foi a maior interpretação da Rita Ribeiro, é a coroa de glória da carreira da Rita Ribeiro .

E eu decidi fazer esta homenagem à Amália.

Conclusão, gostaria muito de vir a repor as peças “Passa Por Mim no Rossio” e a “Amália”.

R.C: O Sr. Filipe é um apaixonado pelo atores…

F.L.F: Nós temos grandes valores em Portugal. Adoro a Alexandra, o João Baião… são tantos!
E temos jovens fantásticos e cheios de talento. É pena que a que não haja de facto incentivos para fazer mais teatro. Não há incentivos! Há quarenta e tal anos, desde o 25 de Abril que se dá sempre os mesmos subsídios às mesmas pessoas. O Ministério da Cultura está completamente viciado, seja qual for o ministro! Muitas vezes os próprios ministros da Cultura não conseguem fazer nada! Porque, aquilo já é uma engrenagem de tal forma anquilosada que não ajuda nada o teatro.

R.C: O que é que seria de um país sem cultura?

F.L.F: É o que nos acontece um pouco. Eu acho que a vida sem arte não tem interesse! A arte é o pulmão que nos faz viver, faz-nos sensibilizar, faz-nos conhecer, faz-nos ter lições de vida, dá-nos a alegria, a tristeza, a amargura, a cultura eleva todos os nossos sentimentos. É por isso que a arte existe. Enquanto o homem existir, existirá sempre arte!

R.C: Foi condecorado duas vezes, por dois presidentes da republica. Que significado têm essas condecorações para si?

F.L.F: Foi sobretudo o reconhecimento de dois presidentes que, eu acho que foram dois bons presidentes da república: O Dr. Mário Soares e o Dr. Jorge Sampaio.

R.C:. É frequente o Sr. Filipe estar à porta do Politeama ou do Salão Preto e Prata, no Casino do Estoril a receber as pessoas que vão assistir aos seus espetáculos.
No final dos espetáculos, quando olha para as pessoas a irem embora. O que pensa? O que é que as pessoas lhe dizem? O que sente?

F.L.F: Ai, as pessoas vão de alma cheia! Agradecem-me imenso. O espetáculo acaba à meia-noite e, muitas pessoas ainda vão fazer trezentos ou quatrocentos quilómetros para chegarem a casa, o que é extraordinário! O publico gosta de teatro e, sobretudo ele sabe que vindo ao Politeama, ele poderá ver esse espetáculos que tanto lhes enche o coração e a alma. É isso que os faz vir desde Caminha a Vila Real de Santo António e andar tantos quilómetros para chegar a Lisboa ou ao Estoril. Temos também uma grande percentagem de turistas, o Politeama tornou-se um ex-libris da cidade de Lisboa.

R.C: As produções La Féria estão no mapa dos acontecimentos culturais.

F.L.F: E sobretudo no mapa dos turistas. Nos hotéis também recomendam. Os turistas têm tradução das peças em inglês no Politeama. No Estoril, temos em inglês e em espanhol.

R.C: Sr. Filipe, muito obrigado por essa energia inesgotável.

F.L.F: Tem de ser! Porque, eu tenho a espada sobre a minha cabeça. Eu tenho de ser o motor do Politeama e destes grandes artistas, técnicos, colaboradores e produtores que trabalham aqui. E tenho responsabilidade idêntica no Salão Preto e Prata do Casino do Estoril.

(c)Nelson Mateus/Retratos Contados para StarsOnline

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