Ana Sofia Gonçalves: “se eles se riem de nós… nós temos que nos rir deles”

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Quando Ana Sofia Gonçalves foi ao casting que posteriormente lhe proporcionou a primeira experiência no Teatro de Revista, nunca pensou conseguir. No entanto, foi com muita felicidade que recebeu a novidade por parte do “Sr. Hélder Freire Costa”, como faz questão de lhe chamar, de que iria integrar o elenco da peça “Humor com Humor se Paga”.

 Cantora profissional desde os 15 anos , o gosto pela música e pela representação levaram-na a participar em diversos musicais, nomeadamente em “ Peter Pan”, onde protagonizou a doce Wendy. Porém, Ana Sofia considera que a experiência atual a enriquece mais do que qualquer outra que já fez até ao momento.

Com uma voz doce e sempre de sorriso nos lábios Ana Sofia Gonçalves acredita que esta crise vai passar e que até lá só precisamos de ir à Revista e de nos divertirmos, pois “se eles se riem de nós… nós temos que nos rir deles”.

Como é que está a decorrer esta primeira experiência no teatro de revista?

Já tinha feito vários musicais. O Peter Pan, o Hight School Musical, entre muitos outros infantis. Em televisão também já participei em novelas, mas na revista é a primeira vez e apesar de já ter alguns anos de experiência, ou seja, quer da música quer do teatro, a revista está a ser uma grande escola. Toda a parte dos ensaios e da preparação foi algo que me enriqueceu mais do que qualquer workshop.

 

Como é que surgiu o convite para fazeres  parte deste elenco?

Não fui convidada para fazer este espetáculo. Vim a um casting aberto, no meio de muita gente que trabalha nestes meandros há muitos anos e surpreendentemente o Sr. Hélder Freire Costa telefonou-me uns dias depois a dizer que eu tinha sido escolhida. Fiquei muito feliz porque era um dos géneros que ainda não tinham experimentado.

 

 Era um sonho?

Era um sonho porque já tinha pisado alguns palcos importantes mas nunca o palco do Maria Vitória. Os artistas que eu admirava e já tinha visto trabalhar aqui, ensinaram-me muito e trataram-me como um deles, por isso é para mim uma grande honra e um grande prazer contracenar com eles neste género de espectáculo.

 

Qual a diferença, por exemplo, dos musicais que referiste?

A preparação para uma revista e todo o espetáculo em si é muito completo. Para além de atores que sabem cantar, nós temos que ter um nível físico e também de colocação de voz muito diferente. O registo é completamente diferente. Como eles chamam aqui, o tom. Dizem-me muitas vezes: “Sobe o tom”. E nós, os novatos aqui da revista, éramos os que mais ouvíamos do Mário Rainho.

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E o que quer dizer afinal…. subir o tom?

Dizerem isto a um cantor… eu pensava “será que é para ir para dó?”. Depois percebi que subir o tom é falar de uma forma mais popular, para se ouvir, ou seja, mesmo que às vezes falhe o microfone o objetivo é que a última pessoa da sala nos ouça. Basicamente é levantar a voz.

 

Como é o ambiente entre vocês?

O ambiente que se vive entre colegas é muito bom, ajudamo-nos muito uns aos outros. Já estamos aqui há três meses, e se me cansar é fisicamente, porque estou no segundo andar e tenho que andar sempre a subir e descer escadas, e também a trocar de roupa, porque de resto, por muito que a peça seja sempre igual, o que quase nunca acontece, nunca estamos a fazer o mesmo papel, por isso não há monotonia. Sou muito feliz, faço o que gosto, e ainda me pagam por isso.

 

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Que mais valias sentes que vais tirar por integrares o elenco desta Revista?

Está a ser uma experiência única. Costuma dizer-se que é mais fácil tirar de um ator do que dar. Ou seja, se nós fizermos demais é só tirar, se não tivermos nada para dar, também não se consegue pôr. Portanto aqui eu tive de fato que puxar por mim, dar o meu máximo e depois adaptar a cada situação. Temos aqui quadros de humor, outros um bocadinho mais sérios e no meu caso também participo num dueto com o David Ventura. Ou seja, são registos diferentes e na minha opinião, quem fizer uma revista, ou muitas como é o caso da Melânia e do Paulo Vasco, está preparado para fazer qualquer registo, quer seja televisão, quer seja teatro. Esta é realmente a grande escola e a forma máxima de representação em Portugal.

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Até que ponto consideras estar a contribuir para que esta forma de representação se mantenha?

A revista é muito portuguesa. Lá fora temos a Broadway, com os seus musicais, aqui, a nossa Revista à Portuguesa. Esta arte, e muito graças ao senhor Hélder Freire Costa, ainda sobrevive e persiste. Espero que com este renovar de elenco, no qual me incluo, a revista possa ganhar uma lufada de ar fresco e voltar aos anos áureos. Gostaria muito que as pessoas ganhassem, cada vez mais, o hábito de vir à revista.

 

E não achas que a conjuntura económica em que o país se encontra pode afetar esse teu desejo?

Acho que não. Este ano felizmente, e apesar da crise, as pessoas continuam a vir. Não posso dizer que temos sempre casa cheia porque estaria a mentir, mas temos tido muito boas casas, o que prova que a Revista continua presente na nossa tradição e que sobretudo é muito atual. Ao contrário do que muita gente diz, inclusive pessoas que já passaram por aqui, a revista não está desatualizada e a prova disso é este espetáculo. O teatro de Revista é aquele que mais atual está, pois tem sempre que ter textos atuais.

 

E de que forma o Teatro de Revista é importante para as pessoas que aqui vêm?

É muito importante. Nós não podemos fugir desta crise nem das preocupações que toda esta conjuntura económica nos trouxe, mas tal como diz, e muito bem, a Ana Marta, num dos quadros de humor, se eles se riem de nós, nós temos que nos rir deles. Ou seja, eles riem-se de nós porque nos andam a tirar tudo, nós não podemos ultrapassar isso, mas também não podemos ficar a choramingar. Vamo-nos rir também e melhores dias virão. Há discursos políticos que são verdadeiros discursos humorísticos, por isso se formos a ver bem eles até estão a alimentar o nosso trabalho. Temos que encarar a vida sempre com um sorriso, pois depois da crise vem sempre a bonança.

 

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Se te pedissem para fazeres um balanço destes três meses numa só palavra qual é que seria?

Surpreendente. Com a crise que está não estava à espera que nos mantivéssemos sempre com muito público e fico extremamente feliz com isso. E a nível pessoal também, pois a cada dia me surpreendo, seja com a evolução que sinto que estou a ter aqui, seja com a reação do público.

 

Esta foi a tua primeira experiência. É  para repetir?

Eu espero que sim. Fica já aqui a informação que estou disponível (risos) Se não for convidada, claro que vou continuar atenta e seguir os meus colegas.

 


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