Leia o discurso de Oprah Winfrey nos Golden Globe Awards

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Oprah Winfrey, a mulher mais poderosa da TV norte-americana, tornou-se na primeira mulher negra a receber o prémio Cecil B. DeMille, durante a 75ª edição dos Golden Globe Awards 2018, no passado domingo, dia 7. Este prémio é dado a pessoas que realizam feitos extraordinários no cinema e TV. O discurso de agradecimento de Oprah fala sobre racismo e violência contra a mulher, dois problemas que ela enfrentou pessoalmente.

https://youtu.be/ss6qQM054B0

Leia na íntegra o discurso de Oprah Winfrey:

“Obrigado, Reese [Witherspoon]. Em 1964, eu era uma garotinha sentada no chão de linóleo da casa da minha mãe em Milwaukee, vendo Anne Bancroft apresentar o Oscar de melhor ator, na 36ª edição do prémio.

Ela abriu o envelope e disse cinco palavras que literalmente fizeram história: “O vencedor é Sidney Poitier”. O homem mais elegante que eu já vi subiu ao palco. A sua gravata era branca, a sua pele era negra – e ele estava a ser celebrado. Nunca havia visto um homem negro ser celebrado dessa maneira.

Tentei muitas, muitas vezes explicar o que um momento como esse significa para uma menina, uma criança que olha a mãe passar pela porta, cansada até aos ossos de limpar a casa de outras pessoas. Mas tudo o que posso fazer é citar aquela música que Sidney cantou em “Olhais Os Lírios do Campo”: “Amém, amém, amém, amém”.

Em 1982, Sidney recebeu o prémio Cecil B. DeMille aqui nos Golden Globe Awards, e eu sei que, neste momento, há algumas garotinhas que estão a ver me tornar a primeira mulher negra a receber esse mesmo prémio.

É uma honra – é uma honra e é um privilégio compartilhar a noite com todas elas e também com os incríveis homens e mulheres que me inspiraram, que me desafiaram, que me apoiaram e fizeram a minha jornada até este ponto ser possível. Dennis Swanson, que apostou em mim para o talk show “A.M. Chicago”. Ele viu-me no programa e disse ao Steven Spielberg, “ela é a Sophia de ‘A Cor Púpura’. Gayle, minha amiga e Stedman, meu porto seguro.

Quero agradecer à Associação dos Correspondentes Estrangeiros. Sabemos que a imprensa está sob cerco nos dias de hoje. Nós também sabemos que é a dedicação insaciável para descobrir a verdade absoluta que nos impede de fechar os olhos para a corrupção e injustiça – para tiranos e vítimas, segredos e mentiras.

Quero dizer que valorizo ​​a imprensa mais do que nunca e, enquanto tentamos navegar nestes tempos complicados, o que eu sei com certeza é que falar a verdade é a ferramenta mais poderosa que todos nós temos.

E eu estou especialmente orgulhosa e inspirada por todas as mulheres que se sentiram fortes o suficiente para falar e partilhar as suas histórias pessoais. Cada um de nós nesta sala é celebrado por causa das histórias que contamos, e este ano nós nos tornamos a história.

Mas essa não é uma história que afeta apenas a indústria do entretenimento. É uma história que transcende qualquer cultura, geografia, raça, religião, política ou local de trabalho.

Então, eu quero esta noite expressar gratidão a todas as mulheres que sofreram anos de abuso e agressão porque elas, como a minha mãe, tiveram filhos para se alimentar e contas a pagar e sonhos para perseguir. São as mulheres cujos nomes nunca conheceremos. São trabalhadoras domésticas e trabalhadoras agrícolas. As que trabalham em fábricas, em restaurantes, as que estão nas universidades de engenharia, medicina e ciência. Elas fazem parte do mundo da tecnologia, da política e dos negócios. Elas são as nossas atletas nas Olimpíadas e elas são os nossos soldados nas forças armadas.

E há outra pessoa, Recy Taylor, um nome que conheço e acho que vocês também deveriam conhecer.

Em 1944, Recy Taylor era uma jovem esposa e mãe que caminhava para casa depois da igreja que ela frequentava em Abbeville, Alabama, quando foi raptada por seis homens brancos armados, estuprada e deixada com os olhos vendados ao lado da estrada.

Eles ameaçaram matá-la se ela alguma vez contasse a alguém, mas a sua história foi relatada à Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, onde uma jovem trabalhadora, chamada Rosa Parks, se tornou a investigadora principal do seu caso e juntas procuraram fazer justiça.

Mas a justiça não era uma opção na era de Jim Crow. Os homens que tentaram destruí-la nunca foram perseguidos. Recy Taylor morreu há dez dias, alguns dias antes do seu 98º aniversário.

Ela viveu como todos nós vivemos muitos anos numa cultura destruída por homens brutalmente poderosos. Por muito tempo, não ouviam as mulheres, ou não acreditavam nelas quando ousavam falar a verdade sob o poder desses homens. Mas esse tempo acabou. Esse tempo acabou.

Esse tempo acabou. E eu só espero – eu só espero que Recy Taylor tenha morrido sabendo que a sua verdade, como a verdade de tantas outras mulheres que foram atormentadas naqueles anos, e mesmo agora, seguem em frente. Estava em algum lugar no coração de Rosa Parks, quase 11 anos depois, quando tomou a decisão de ficar sentada no autocarro em Montgomery, e está aqui com todas as mulheres que escolhem dizer “eu também”. E está em todo homem – todo homem que escolhe ouvir.

Na minha carreira, o que sempre tentei fazer de melhor, seja na televisão ou no cinema, é dizer algo sobre como homens e mulheres realmente se comportam. Para dizer como sentimos vergonha, como amamos e como nos enfurecemos, como falhamos, como recuamos, perseveramos e como superamos.

Entrevistei e retratei pessoas que resistiram às coisas mais feias que a vida pode oferecer, mas uma qualidade que todos parecem partilhar é a capacidade de manter a esperança para uma manhã mais clara, mesmo durante as noites mais sombrias.

Então eu quero que todas as meninas que estão a ver aqui e agora, saibam que um novo dia está no horizonte! E quando esse novo dia finalmente amanhecer, será por causa de muitas mulheres magníficas, muitas das quais estão aqui neste auditório esta noite e alguns homens fenomenais, lutando para garantir que se tornem os líderes para que ninguém nunca mais tenha de dizer “Eu também”. Obrigado!”.

Mandatory Credit: Photo by David Fisher/REX/Shutterstock (9307692fb) Oprah Winfrey - Cecil B. DeMille Award 75th Annual Golden Globe Awards, Press Room, Los Angeles, USA - 07 Jan 2018
Oprah Winfrey – Cecil B. DeMille Award
75th Annual Golden Globe Awards, Press Room, Los Angeles, USA – 07 Jan 2018

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