Foi através de um artigo na sua conta do Instagram que a deputada do PS, e também escritora, advogada, cronista e ativista, Isabel Moreira, entusiasta do movimento Me Too, sublinhou que é necessário ter cuidado com as falsas acusações.
“Sei até hoje, por observação de terceiros, da ‘sentença’ eterna que carrega quem é acusado falsamente. Ainda que não se prove o que quer que seja, essa pessoa fica até ao fim dos seus dias a saber que há na cidade aquela pergunta monstruosa: «será que não fez aquilo?».“, escreveu Isabel Moreira na rede social Instagram.
“QUEM NÃO DEVE NÃO TEME? E O ESTADO DE DIREITO?”
“Sou uma entusiasta do movimento #metoo nos exatos termos em que nomeadamente amanhã explicarei em artigo no Expresso. Aliás, a única vantagem do movimento chegar tão tarde a Portugal é podermos evitar alguns erros que inevitavelmente aconteceram noutras paragens.
Dito isto, tenho lido por aí, a propósito da enorme importância de acreditarmos mais nas mulheres (de acordo), que quem não deve não teme. As falsas queixas, nomeadamente de violência doméstica, são poucas, pelo que a ideia é esta: o importante é falar – se à vontade e se pelo meio existirem homens inocentes acusados na praça pública, pois paciência, é um pequeno preço a pagar para reparar tanta injustiça histórica, e esses homens, claro, nada devendo, nada têm a temer.
Lamento, mas isto é insuportável num estado de direito. Uma pessoa com apego ao estado de direito não pode ter por ‘mal menor’ ou ‘mal necessário’ haver um ou outro homem inocente acusado e vilipendiado. Porque se não deve, não teme. Eu temo. E muito.
Sei até hoje, por observação de terceiros, da ‘sentença’ eterna que carrega quem é acusado falsamente. Ainda que não se prove o que quer que seja, essa pessoa fica até ao fim dos seus dias a saber que há na cidade aquela pergunta monstruosa: «será que não fez aquilo?». A dúvida de carácter instala-se e corrói o falso acusado de formas tão violentas que viver de forma sã passa a ser, muitas vezes, impossível.
Quem não deve, teme, sim. E tem razão para temer pelo seu bom nome, pela sua paz, pela sua privacidade, pela sua saúde. É por isso que eu, uma defensora intransigente da voz das mulheres nestes tempos #metoo, peço apenas que não nos esqueçamos do estado de direito. Não é indiferente que uns quantos inocentes tenham de se defender pelo caminho. Não, não é indiferente.” (Isabel Moreira)