Nuno Gama decidiu não apresentar uma coleção na 55.ª edição da ModaLisboa, a decorrer até domingo, optando por uma ‘performance’ para estimular uma reflexão sobre o momento atual.
O que se viu ontem à tarde dentro do lago situado no topo do Parque Eduardo VII, em Lisboa, onde está um monumento de João Cutileiro ao 25 de Abril, foi, segundo Nuno Gama, um “momento de pensamento”, por si idealizado e coreografado por Olga Roriz.
“Dado o momento, esta edição, não se justifica apresentarmos coleção. Mas, na tentativa de compreender e fazer da situação uma oportunidade de evolução, compartilhamos um pensamento com uma dança, interpretado por Bruno Pardo, acompanhado pelos modelos e coreografado por Olga Roriz. Virados do avesso, estancados, apalpamos respostas em passos de memória de hoje com que reergueremos amanhã”.
A ‘performance’ teve início com a entrada em cena de uma série de modelos, vestidos apenas com uma tanga preta, que se colocaram em fila junto ao lago, a observarem a estátua do Marquês de Pombal. A única peça criada por Nuno Gama para a ocasião, um casaco azul com bordados dourados, foi vestida e despida, à vez, por cada um dos modelos. Dentro do lago, o bailarino Bruno Pardo ia-se movimentando por cima das pedras.
“Na nobreza da herança que nos distingue, reencontramos fronteiras da essência da nossa alma, que ponto por ponto, bordámos a fio de ouro, entrelaçados numa introspecção, rezada, num casaco único, que não repetiremos, numa carta de amor a Portugal. Dançaremos tantas vezes quanto necessárias, até que a música se faça ouvir, inspirados pela poesia da gestualidade do vestir e pela beleza da articulação mecânica da máquina humana, buscando assim novas fórmulas que rescrevam a forma/função do vestuário na nossa vida, no que representa para todos nós, na eterna busca do que desejamos”.
A coreografia, segundo Nuno Gama, ficou “100% nas mãos da Olga Roriz”. “Não me meto em seara alheia”, afirmou.