O Museu da Cerveja, na continuada experiência de brindar os seus clientes com as mais variadas e tradicionais experiências gastronómicas, propõe-nos agora uma ancestral iguaria portuguesa, que se destaca pela sua originalidade e tradição: o Cabrito Estonado.
“O prato de “cabrito estonado” é a recuperação de uma receita medieval de cabrito assado no forno, com uma particularidade única: é assado com a sua pele, passando anteriormente por um processo de “estonagem”, que não é mais do que a remoção de todo o pelo do animal. Mantendo a pele, que fica estaladiça, o cabrito não perde os seus sabores, ganhando a sua carne em suculência e paladar”, refere Pedro Dias, Director do Museu da Cerveja.
Ontem, dia 15, foi a data escolhida para a entrada desta nova receita no cardápio do Museu da Cerveja, situado no Terreiro do Paço, em Lisboa, e que contou com a presença de várias figuras publicas, como a actriz Cláudia Semedo, o Maestro António Vitorino d’Almeida, os ex-jogadores de futebol Toni, Simões ou Manuel Fernandes, o cantor brasileiro Ivan Linz, Ana Maria Lucas, João Malheiro além de clientes e amigos que encheram a sala por completo.
Antes do jantar, a quem foi dado a conhecer esta iguaria, houve lugar à leitura do conto “A Paz por um Cabrito” interpretado por Ruy de Carvalho e sua família: Paula (filha), João (filho), Henrique (neto) e Paulo Coelho (genro). Após o jantar, o cantor Paulo de Carvalho brindou os presentes com algumas das suas canções, terminando em beleza a apresentação de um prato que “é uma antiga receita de partilha entre os povos”.
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CABRITO ESTONADO: UM POUCO DE HISTÓRIA…
A primeira vez que surge uma referência documental ao cabrito estonado é num antigo livro de cozinha da região do Al-Andalus (o ocidente da Península Ibérica) do século XIII. Em 1624 será a vez do jesuíta português António de Andrade, o primeiro ocidental a chegar ao Tibete, que narrará as delícias deste pitéu.
O cabrito estonado resistiu ao tempo. E contudo, pouco sabemos das suas origens. Sabemos que é um prato bem conhecido desde tempos antigos pelas tribos beduínas da Península Arábica; sabemos que os povos nómadas da Síria, do Iraque, do Egito ou da Líbia o saboreiam há séculos; sabemos que os cristãos arménios o elegeram há muito como o seu pitéu predileto; sabemos que o povo judeu também o aprecia desde sempre; sabemos que no antigo Al-Andalus era um reputado petisco; sabemos que por cá se manteve em alguns locais, sendo a vila de Oleiros um exemplo.
E sabemos que a sua origem não é étnica mas religiosa, pois é um prato historicamente partilhado pelas três religiões herdeiras do profeta Abraão: O ISLÃO, O JUDAÍSMO E O CRISTIANISMO.
Mais do que uma boa receita, o cabrito estonado é parte do património português, devido à permanência árabe entre nós. Mas também é herança de vários povos e das três principais religiões abraâmicas. Saboreá-lo é um ato de prazer; mas também será uma lição de História e até uma partilha entre pessoas de bem que sabem esquecer divergências religiosas fictícias para se irmanarem numa mesa comum.