Entrevista a Pedro Lima: “A família é o meu pilar”

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Nascido em Luanda, Pedro Lima recorda com saudade as suas origens e confessa-se feliz “pessoal e profissionalmente”. Pai de quatro filhos, e com um casamento sólido, o actor confessa que “há pouco mais a pedir”.

Pedro, comecemos pelo inicio, estreou-se na representação nos anos 90, antes, foi atleta de alta competição e modelo… como é que essas experiências o influenciaram enquanto ser humano e claro, posteriormente, na carreira de actor?

As experiências são transversais na nossa vida e tudo se liga. Ter sido atleta de alta competição deixou-me o rigor e o método, principalmente. Sou muito disciplinado, e isso é sem dúvida desses tempos. Gosto de ser organizado em tudo o que faço e hoje seria impossível conciliar tudo se não fosse assim. A parte de modelo fez-me dar mais importância ao visual. Sempre tive cuidado com a imagem, mas era mais prático. Hoje por mim, e pelo meu trabalho, gosto de ter mais atenção à minha imagem.Todas estas experiências fazem com que consiga ser mais multifacetado nas personagens que faço.

 

Tem saudades desses anos?

Tenho saudades, mas não sou demasiado saudosista. Às vezes lembro-me dos tempos em que fazia natação e tenho saudades da energia e de alguns colegas, mas quando vou para o mar surfar consigo matar um bocadinho dessa saudade. E como gosto tanto do que faço é raro olhar para trás. Prefiro imaginar o futuro.

 

Que balanço faz destes 18 anos de carreira, enquanto actor?

Têm sido 18 anos de experiências maravilhosas. Foi um instante em que passaram estes anos, e quase nem dei por eles. Mas a verdade é que tenho tido o privilégio de integrar projetos altamente aliciantes e que me desafiam. Tento superar-me em cada peça, em cada telenovela. Sou muito competitivo e quero fazer sempre o melhor que posso.

 

Como lida com o público e com a exposição mediática?

Lido bem. Ao início, quando comecei a fazer televisão, era estranho ser reconhecido na rua. Hoje, passados tantos anos, já me habituei e gosto do carinho das pessoas. Acho graça quando me vêm falar na rua sobre uma personagem. Há sempre quem se preocupe e me queira avisar de alguma coisa ou perguntar o que vai acontecer. E quando recebo elogios fico sensibilizado e feliz por gostarem do meu trabalho.

 

Depois de Godot, regressa ao Teatro com Kilimanjaro. O que o público pode esperar desta peça? Como é dar vida a uma obra de Hemingway?

O Kilimanjaro dá-me muito gozo fazer. É uma oportunidade única levar Hemingway à cena já que o autor não se dedicou ao texto dramático mas os seus romances e contos e outras narrativas estão recheados de pérolas que configuram cenas com potencial dramático. Este conjunto de textos sustenta, sem dúvida, um bom e interessante espetáculo de teatro.

 

O Pedro aposta muito no chamado “teatro de intervenção”. É o que mais faz sentido?

Talvez lhe chamasse mais teatro de consciencialização. Quando fazemos teatro temos a responsabilidade de dar às pessoas um espetáculo em direto onde não espaço para cortar e voltar atrás. Portanto, quando penso em teatro penso em bons textos que façam o público emocionar-se, questionar-se, do primeiro ao último minuto da peça.

 

Para além da peça, está dedicado à novela na personagem de Pedro Caiado. Como consegue conciliar o teatro e a televisão?

A disciplina e a organização que trago do desporto é importante nestes casos. Às vezes é complicado conseguir gerir tudo. Gravamos muito tempo e depois tenho de ir a correr para os ensaios da peça. Tenho mil e um textos na cabeça. Mas, apesar de ser cliché, a verdade é que quando gostamos do que fazemos conseguimos arranjar tempo para tudo.

 

Se tivesse de optar entre o teatro e a televisão, conseguiria fazê-lo, ou uma completa a outra?

Quase impossível uma decisão dessas. Sou muito feliz a fazer teatro e televisão. São projetos diferentes, com dinâmicas distintas. Completam-me a mim e completam-se uma à outra.

 

Gostava de fazer mais cinema?

Quero voltar a fazer parte de um bom projeto de cinema, sem dúvida. Em breve estará nas salas um filme que rodei recentemente com realização de Carlos Saboga e produção de Paulo Branco.

 

Que personagem gostava de abraçar e que ainda não conste do seu curriculum?

Já fiz um pouco de tudo. Fui herói, fui vilão e até já dei uns passos em comédia. Todos os papéis são diferentes.  Não há dois heróis nem dois vilões, iguais. Acho que já experimentei um bocadinho de todos, e estou pronto para continuar a abraçar todos os projetos que façam sentido.

 

Cada vez surgem mais actores. Como vê esta tendência? Haverá mercado para tanta gente?

Há mercado para todos. Tem de existir. As oportunidades vão aparecendo e há sempre alguém indicado para um papel específico. Eu próprio já fui um ator estreante e foi ótimo poder fazer parte de verdadeiros elencos de luxo. E mesmo hoje podemos aprender entre nós, todos com experiências e técnicas diferentes. Aprendemos a coexistir todos e é uma mais-valia. 

 

O Pedro tem aquela imagem de galã. Mas uma cara bonita não chega. Vindo do mundo da moda, sentiu alguma vez a necessidade de provar, ainda mais, o seu valor?

Tive de fazer frente ao preconceito que ainda existe dos modelos que se tornam atores. A imagem, nestes casos, até pode ser prejudicial porque as pessoas associam que com uma boa imagem vêm sempre regalias. E não é assim. Tive de me esforçar, como ainda hoje esforço-me para dar o meu melhor e apresentar o meu trabalho.

 

Alguma vez questionou as suas capacidades ou pôs em causa o rumo que tinha seguido?

O meu sonho era ser ator. Apesar de ter tido um percurso dito normal, estava a estudar Engenharia antes de entrar no mundo da representação. Mas já me aconteceu pôr em causa as minhas decisões. Como, com certeza, já aconteceu a todas pessoas. Lembro-me que quando me deparei com alguns encenadores que foram mais exigentes, comecei a pensar se seria este o meu espaço. Mas acho que se aprende com tudo. Até quando fui levado a questionar-me. Ganhei a certeza que é em cima do palco e à frente das câmaras que sou feliz e me sinto bem.

 

Voltando à novela, A única Mulher é gravada também em Luanda. Dá-lhe um gostinho especial visto as suas raízes estarem ali representadas?

É verdade, nasci em Luanda e tenho uma relação muito forte com Angola. Cheguei a representar o país, quando fazia natação de competição. E hoje gosto muito de lá voltar, ainda sinto o cheiro da terra e sinto-me logo me casa. Claro que agora adoro lá voltar,  e esta é uma ótima oportunidade para poder mostrar as qualidades magníficas daquela terra.

 

Recentemente surpreendeu ao dançar Kizomba. Recebeu criticas/elogios à sua prestação?

Está no sangue! Kizomba é um estilo que nasceu em Angola, claro que tinha de fazer jus à responsabilidade. Recebi alguns elogios pela dança, e fiquei muito contente. Gostei muito de participar. Mas tenho de dizer que a Mónica, a minha colega, me ajudou muito nos ensaios e na gala.

 

O Dança com as Estrelas seria um projecto/um desafio que o Pedro gostaria de abraçar?

Gostei muito de participar. É uma questão que teria de ponderar em caso de convite.

 

Falando em projectos, depois desta temporada no teatro D.Maria, há já alguma previsão para levar esta peça a outros locais? Ou quiçá outros desafios que já possa revelar?

O Kilimanjaro já esteve em digressão em várias zonas do país. Começámos em Almada, passámos por Braga e viemos parar a Lisboa. Por agora, penso que a peça termina. Continuo com as gravações de “A Única Mulher”. Por enquanto, não tenho mais projetos que possa desvendar. 

 

Impreterivelmente tenho de o questionar sobre o seu lado mais pessoal: o Pedro é um exemplo no “panorama familiar”. E tem aquele ar de “pai cool”. Como é ser pai de quatro crianças e gerir o tempo para ter tempo para todos eles e claro, para o casamento?

E voltamos à questão de organização. Nem sempre é fácil conjugar tudo. Mas a família está sempre presente, são o meu pilar. Gosto muito de estar com eles, e tento passar o máximo tempo que posso com os meus filhos. E eu e a Anna arranjamos sempre um tempinho para namorar. É importante manter a família unida. Fazem parte da minha felicidade, quando eles estão bem eu estou bem.

 

É mais “fácil” ser pai de rapazes ou de raparigas?

Adoro ser pai. E até hoje acho que é igual ser pai de rapazes ou de raparigas. Dou-lhes o mesmo o amor e carinho. São pessoas diferentes e têm todos personalidades e necessidades distintas. É uma questão de coordenar o que cada um gosta e precisa e ajustamo-nos todos muito bem. Daqui a uns anos, daqui a muito tempo espero (risos), quando as minhas filhas tiverem um namorado logo vejo se mudo de opinião.

 

Gostava que algum dos seus filhos seguisse as suas pisadas?

Eles já me seguem para o mar. Deixa-me muito contente ter os meus filhos comigo. E fico feliz que partilhem esse gosto pelo surf. Mas cada um deles tem preferências próprias. Não sou desses pais que acham que os filhos têm de fazer isto ou aquilo. Não acho que exista nada predefinido. Só quero que eles sejam felizes, sejam na mesma área que eu ou não.

 

A nível familiar é uma pessoa realizada?

Sou muito feliz. Somos uma família grande e feliz. Acho que há pouco mais que possa pedir em termos de família.

 

O Surf está muito presente nos seus tempos livres. É uma ideologia, um modo de vida, do qual não abre mão?

O surf é mesmo um modo de vida. Ando sempre com a prancha comigo, no carro. Nem sempre consigo praticar tanto como gostava porque o tempo é pouco ou porque estou  demasiado cansado. Mas nada como entrar no mar para recuperar energias e me sentir bem.

 

Para além do Surf, é padrinho da equipa de Paradressage da Academia Equestre João Cardiga. Qual a sua relação com a equitação e como nasceu esta parceria?

Gosto de tudo que esteja ligado ao desporto. Há quem brinque a dizer que cavalga a onda. Eu faço os dois. A minha parceria com a Academia começou até por uma causa muito nobre. Juntámos alguns colegas e amigos para apoiar a missão “A equitação para todos”. Gosto de ajudar sempre que posso. 

©Alexandra Martins do Vale/StarsOnline®

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